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O Zen, a prática do Despertar da Consciência Universal

No Zen falamos de Consciência – Consciência Cósmica.

Então mergulhamos, mergulhamos na prática, na prática-despertar, na prática-despertar-consciência. 

Ejo Takata, um dos primeiros monges zen que chegaram ao México, escreveu um texto em que dizia o seguinte:

Da mesma forma que um peixe não pode ter um conhecimento objectivo do oceano, o peixe é o oceano e o oceano é o peixe, o peixe não pode sair do oceano para conhecê-lo desde fora. O seu conhecimento do oceano é a experiência de ser peixe-oceano.

Dessa mesma forma, nós somos Consciência, a Consciência é o Oceano em que acontece a nossa experiência, é a nossa existência e não podemos sair fora da consciência para a conhecer objectivamente. A nossa forma de a conhecer é Ser Consciência-Existência”.

Então tal como o peixe, o oceano ou a nossa existência, tal qual a nossa respiração é ir e vir, é esse vaivém cósmico.

Ir e vir é a nossa consciência-existência; então o melhor é abandonar tudo, é melhor ir leve no caminho. Não é preciso levar nada connosco, apenas a nossa respiração, a nossa consciência cósmica, esse vaivém, esse ir e vir.

No Zen falamos de consciência e dizemos que tal como um peixe somos consciência-oceano-existência cósmica.

*

A primeira coisa que devemos aprender quando iniciamos a nossa prática do Zen é estar atento.

E a primeira da primeira coisa ainda é estar atento ao som da taça, afinal é isso que determina a nossa prática-experiência durante esse intervalo, entre os sons da taça.

Então a primeira atenção é o som, desde o início até ao final, até à sua extinção, às vezes se estamos desatentos não percebemos que o som ainda continua, ainda lá está… distraídos não podemos ouvi-lo. 

Sei que não é simples, não é simples de uma visão súbita e repentina, perceber o alcance e a totalidade do Dharma, sobretudo quando a nossa prática é colocar-nos frente a uma parede, imóveis, em silêncio e mais nada.

Tão pouco, nada mesmo, Nada!

Então se nos confrontarmos com isso repetidas vezes, uma, duas, dez, cem… então persistir, percorrer esse tempo, essa pergunta, percorrê-lo com o corpo-mente disponível.

De certa forma o som da taça é como a nossa vida, tão breve e manifesta-se desde logo, no nascimento, no choro, forte, primeiros anos, exuberante, depois percorremos a Vida e refinamos esse som, essa vibração, até que, claro, nos extinguimos.

A nossa prática é exactamente a mesma coisa, uma Vida, se nascermos e nos atingirmos pouco tempo depois – nenhuma visão da Via. 

Dez, quinze anos, uma visão, pouca coisa.

De que serve experimentar um ou dois anos de prática?!  se não se persistiu, não há visão do Dharma…

Persistir, percorrer o Caminho, então subitamente, subitamente bailamos com o Cosmo. E regressamos ao início de tudo. Não é simples. No entanto, afinal é tão simples a nossa prática. Nada!

*

No último kusen falei do som da taça.

No fundo, se aprofundarmos o kusen, estamos a falar de Atenção, de Escuta – escuta e atenção consciente vão de mão dada com um aspecto fundamental da nossa viagem – a Postura.

Quando entramos no Dojo é-nos transmitida esta postura e quando falo de postura… digamos que é no sentido, de certa forma, psíco-físico-mágico.

Postura para nós quer dizer cruzar as pernas, endireitar bem a coluna, empurrar a terra com os joelhos e o céu com a cabeça e permanecer. Permanecer Aqui e Agora, a cada instante.

Claro que sabemos que postura também é a nossa atitude. No Zen diz-se “O Espírito”, quer dizer a postura face à vida, a atitude na vida. Sabemos que quando nos encontramos deprimidos a nossa postura é encurvada, olhar baixo, difuso, para os pés, a nossa respiração muda, torna-se tépida. Ou quando nos encontramos excitados, sob o efeito do álcool, das drogas, de certa forma a nossa consciência e a nossa postura também se alteram, parece que podemos tudo.

Um pouco fora da realidade, do Aqui e Agora, da postura correcta.

A atitude face à nossa prática, uma postura equilibrada – o Caminho do Meio. Não é uma coisa teórica, quando nos sentamos de determinada forma isso leva-nos a uma respiração correcta, essa postura-respiração leva-nos a uma atitude do estado da mente claro.

Tudo é Um, tudo é Unidade.

Então se aprofundarmos a postura ou o que quis dizer com postura, com Espírito, percebemos que isso quer dizer abertura, Abertura e Não-Discriminação. 

A postura leva-nos a abrir o coração, direito, erguido, olhar no infinito; isso é Abertura. É abrir o coração, a nós próprios e aos outros. A todos os seres.

Se essa abertura é suficientemente ampla leva-nos à Não-Discriminação, do que é diferente, do que é semelhante e inclui-nos também a nós próprios.

No fundo a nossa prática é permanente, em qualquer lugar que nos encontramos, face a qualquer situação já temos em nós a Iluminação.

Para isso é preciso Despertar, despertar à realidade das coisas.

Abrir-se e incluir o Universo inteiro, dentro de nós!

*

Esta prática indizível que não tem nome, é semelhante ao dragão quando entra na montanha ou ao peixe quando nada no oceano.

Podemos chamar-lhe Zen, mas quando a nomeamos assim, deixa de ser Zen.

Pratiquei três anos com o mestre Samu Sunim, do Zen coreano, ele, de vez em quando, gostava de comparar a nossa prática com um fogo, um gigantesco fogo interior. E costumava dizer que a nossa prática é como pôr um barrote no fogo, um tronco que é a base do fogo.

Quando nos encontramos com o Zen damos de caras com o Diamante, o Tesouro. 

Todo o nosso corpo percebe isso de uma vez só, depois cabe a cada um/uma saber o que fazer com esse diamante. Samu Sunim costumava dizer que a nossa prática é colocar a arder um grande tronco e dizia que a princípio prendemos o fogo, às vezes custa a começar a arder.

Uma pequena chama e o madeiro começa e se o alimentamos com a nossa prática regular temos uma brasa enorme, um fogo que cresce.

Se, pelo contrário, acendemos essa pequena chama que começa a arder e depois a abandonamos… mais tarde voltamos a prender essa pequena chama e a abandonamos, uma e outra vez…

Isso é aquilo que todos sabemos, temos um grande madeiro para arder, prendemos-lhe fogo e depois quando começa a arder jogamos água, claro que o madeiro fica molhado, é mais difícil voltar a prender esse mesmo fogo e se fazemos isso uma e outra vez…”

Claro, o tamanho do madeiro que cada um tem para arder, para queima, para purificar, isso é a prática de cada um. A prática do Despertar da Consciência Universal.