Texto incluído na edição #6 da revista Budismo – Uma Resposta ao Sofrimento (Março, 2022)
Por favor, não construam uma stupa para mim.
Thich Nhat Hanh
Por favor, não coloquem as minhas cinzas num vaso, não me prendam lá dentro e limitem quem eu sou.
Sei que isso será difícil para alguns de vocês.
Se você tiver que construir uma stupa, por favor prometa que vai colocar uma placa nela que diz:
“Eu não estou aqui.”
Além disso, você também pode colocar outra placa que diz:
“Eu também não estou lá fora.”
E uma terceira placa que diz:
“Se eu estiver em algum lugar, é na sua respiração consciente e nos seus passos calmos.”
Todos sabemos que o mestre zen Thich Nhat Hanh (Thay) deixou a sua respiração consciente numa última expiração.
Todos sabemos que um mestre zen nunca morre.
Conta-se no zen que um monge desejava muito saber o que era o Zen. Ele foi ao mosteiro e perguntou “Mestre, o que é o Zen?” O mestre levou-o ao jardim, caminhou com ele, mostrou-lhe flores, árvores, o que estava plantando e conduziu-o até a saída. O aluno voltou para casa sem resposta alguma. No dia seguinte, o jovem monge voltou de novo, “Mestre, o que é o Zen?” e novamente o mestre levou-o ao jardim, olhou o céu, as árvores e o rio. E o aluno retornou a sua casa descontente. Nos dias seguintes, o aluno voltou ao mosteiro, na primavera, no verão, outono e inverno. Ele foi ficando cada vez mais cansado do silêncio do mestre que não lhe dava resposta alguma sobre o Zen. Um dia, antes de sair de casa, pensou “se hoje eu não tiver a resposta do que é o Zen, eu nunca mais volto com o mestre” e foi caminhando inabalável ao encontro do ancião. Assim que entrou, disse “Mestre, o que é o Zen?”. O mestre pegou-o pelo braço e foi conduzindo-o até o jardim, ao que o monge disse “Não, não, não quero ver jardim nenhum, quero saber o que é o Zen!” O Mestre então pediu que ele arrumasse as suas coisas e fosse até uma aldeia
próxima. O discípulo, obediente, seguiu o seu pedido. Chegando à aldeia próxima, todos os moradores estavam esperando por ele com grandes reverências e dizendo “Seja bem-vindo, Mestre!”.
Havia-se tornado mestre também.
Tinha perguntado o que era o Zen 365 mil vezes e formulou 365 mil respostas. Então, muito provavelmente, ele já sabia o que era o Zen.
No antigo templo de Kodo Sawaki, Antaiji, o agora responsável, o monge Muho, quando lhe perguntaram como é que ele, um ocidental se tinha tornado mestre zen e sucessor do seu mestre, ele apenas respondeu:
– Cheguei ao mosteiro e durante anos, todos os dias, ajudei o meu mestre a fazer pão. E foi então que um dia, o meu mestre morreu e eu fiquei… padeiro.
É esta a tradição (e a modernidade) no zen.
A transmissão.
I Shin Den Shin.
De coração a coração.
De mestre a discípulo.
Desde Buddha até hoje.
Sempre.
Então, um mestre zen nunca morre.
Pode fazer aqui o download desta edição:
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